Investir na bolsa já foi mais complicado, mas algo permanece errado
Há 30 anos era difícil investir na Bolsa. As cotações eram divulgadas no dia seguinte, pelo jornal, e olhe lá. Claro que você poderia ligar na corretora e saber a cotação do momento…mas tinha que ligar. Isso se desse a sorte de a corretora ainda estar lá, porque naquela época elas costumavam sumir, e se a ligação não caísse você podia aproveitar para fazer alguma operação, já que o único jeito era por telefone mesmo – além de pessoalmente ou por carta.
Nos anos 90 havia computadores, claro, mas você já tinha que ser rico para ter um e poder investir. E havia redes de computador também, mas ainda assim, para conectar seu caro computador com a bolsa você tinha que ser ainda mais rico. E paciente. Nada ajudava, tudo era mais difícil, lento, duvidoso, complicado. Inclusive a economia. E nesse cenário, para obter alguma instrução, havia livros. Nada de Google.
A partir do ano 2000, muitas mudanças aconteceram ao mesmo tempo, convergindo para um cenário mais feliz. A internet, que antes era uma coisa nerd e restrita, foi ganhando popularidade e hoje dispensa apresentações. Antes você acessava a rede num faxmodem USRobotics 4800 discado, que ocupava sua linha de telefone fixo, e ficava feliz em conseguir baixar uma foto. Hoje você não tem nem o fax, nem a linha fixa, e assiste filme em HD online no celular.
O mercado também surfou essa onda: o meio online revelou-se perfeito para a difusão das informações de ativos, cotações e aprendizado; o homebroker deu liberdade, poder e agilidade aos investidores; as redes sociais possibilitaram a formação de comunidades e grupos de discussão. E a economia do período deu uma bela ajuda para que a população se interessasse pelo tema.
Só uma coisa continuou no passado: impostos.
Pagar corretamente seus impostos sobre operações na bolsa ainda é algo assustadoramente complicado. Parece que não evoluiu, continua difícil, lento, duvidoso, complexo. Definitivamente, não é algo que qualquer pessoa consiga fazer.
Investir de outras formas, como Fundos ou Renda Fixa, é fácil, em parte, por causa da forma de cobrança de impostos nestes mercados. Eles são simples, calculados pelas instituições e pagos na fonte – ou seja, você não precisa fazer nada, a responsabilidade pelo pagamento não é sua.
Na bolsa é exatamente o contrário: a responsabilidade é TODA sua. Você é o responsável por efetuar o cálculo e o pagamento. Seria fácil pagar se fosse fácil calcular – mas esse é o ponto. Existe uma certa quantidade de regras, situações, exceções, casos e compensações que praticamente inviabilizam o pagamento, a partir do momento em que o investidor decide sofisticar um pouquinho suas operações.
Aqui não farei mérito de casos e exemplos, mas esteja ciente de que mesmo para operações simples, o cálculo é trabalhoso a ponto de cansar o investidor médio. Isto, certamente, é fator de desestímulo para a entrada massiva de pessoas no mercado. E um mercado de capitais desenvolvido é aquele em que as pessoas são levadas a participar, de forma livre, desimpedida, desmistificada e, acima de tudo, descomplicada.
Esperamos que este próximo passo do mercado de capitais seja dado em breve. Enquanto isso não acontece, uma boa dica é apostar em conhecimento, aproveitando as facilidades de acesso à informação que hoje finalmente existem, e conhecer melhor as ferramentas de gestão que podem te auxiliar a investir melhor e lucrar ainda mais.
Daniel Schwartz
Consultor de Investimentos LiveCapital
Publicado originalmente no site ADVFN.
Sem cartão, só email